Rubens Amador
Filhos
Rubens Amador
Os pais sabem cuidar de seus filhos, dando-lhes boas escolas, bons médicos e bons dentistas. E sabem como tratá-los não os maltratando de forma nenhuma. Deixam o último bife para um deles no almoço ou no jantar. Cuidam para que eles andem razoavelmente bem vestidos e calçados, para que não venham sofrer humilhações, na escola ou em qualquer lugar. Cuidam para que estejam sempre bem alimentados. E com seus os amigos, têm a alegria de falar de seus filhos e de seus progressos na escola e na vida. Enfim, sentem um enorme orgulho de seus rebentos. São felizes na época em que eles eram crianças e acreditavam nas histórias que lhes contavam.
Os pais gostavam de dar livros aos filhos para que assumissem este hábito salutar e educativo. Gostavam de contar belas histórias para seus filhos, e criavam muitas situações imaginosas para que eles acreditassem e tivessem momentos felizes. Lembro-me de um pai que colocava, no verão, quando veraneava com a família na praia, um vaga-lume dentro de um copo emborcado, e dizia a seus filhos: "Amanhã, quando acordarem, o pirilampo irá embora mas vai deixar algumas moedas para vocês." Eles acreditavam. Dormiam logo, e talvez até sonhassem com aquilo, enquanto o pai libertava o inseto luminoso e colocava várias moedas no copo para que de manhã pudessem ser divididas entre os dois filhos que tinha na época.
Pai é assim: para seus filhos gostam de criar situações que os tornem felizes. Jamais os querem tristes. E tem o Natal, quando se superam, e gastam generosamente só para vê-los na manhã do dia 25, abrindo os presentes, sentados no chão, e vibrando com cada coisa que ganharam do "Papai Noel". E os seus aniversários eram sempre comemorados, com maior ou menor intensidade, mas sempre com alegria e... os indefectíveis e esperados presentes. Quando vão ficando maiores vem a bicicleta, depois, já jovens, muitas vezes ganham uma perigosa (hoje se sabe) motocicleta. Em suma, para cada filho sempre há a expectativa de se fazer algo que os tornem felizes.
Os pais, por anos a fio, levantaram-se muito cedo para ir para o trabalho, para que seus filhos pudessem estudar, só estudar. Se precisavam de cursinhos para uma faculdade, os pais atrasavam contas, sujavam as mãos, mas que seus filhos não deixassem de frequentar os tais cursinhos. E se tornam homens, mas sempre filhos amados e acariciados. Se algum está mal, os pais vendem até um imóvel para ajudá-lo a sair da situação.
Mas não sei se por começarem a sentir que a vida é algo que será preciso viver por eles próprios, mudam um pouco, deixam de ser crianças para se tornarem adultos, na sequência da vida. Ainda mais uma vez os seus pais procuram dar-lhes o melhor. Quando estão começando suas vidas, os pais estão sempre por perto procurando ajudar com o pouco que muitas vezes guardam, mas os socorrem. Já não se trata mais de brinquedos, mas sim de boas escolas, muitas vezes pagas com sacrifício, mas que os filhos merecem receber sempre o melhor que os pais podem oferecer.
Chega o dia da diplomação. Palmas, alegrias e muitas vezes furtivas lágrimas. Seus pais encaneceram e envelheceram. Alguns privilegiados recebem sempre como prêmio - gratidão e amor - que é manifesto através do interesse e cuidados por parte de seus filhos, para com os quais pensam ter cumprido sua missão e chegaram ao seu final, tendo agora pouco para oferecer. Embora uns poucos, que pensaram no futuro - ainda deles - e com um pouco de sorte conseguiram assegurar-lhes alguma herança. Mas infelizmente terminarei estas linhas tendo de reconhecer que - se sabe - muitos daqueles filhos que amaram, já não se lembram mais dos vaga-lumes, e muito menos de seus pais.
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